Racismo Estrutural

A quem interessa que a sociedade olhe para os negros disparando medo em suas retinas? A quem interessa manter a população negra afastada das zonas centrais e dos espaços urbanos de maior circulação de capital? A quem interessa inviabilizar melhores condições de infraestrutura nos espaços de moradia onde encontram-se a maior parte da população negra? A quem interessa delegar ao homem negro e à mulher negra apenas funções subalternas de trabalho? O caráter perverso com que se delineia as condições sociais e se estabelece tais relações, é algo muito peculiar.

O homem negro que sofre ao ver a mulher branca segurando firme sua bolsa quando o vê indo em sua direção, é o mesmo homem negro ao qual é atribuído a função de protegê-la nos estabelecimentos comerciais em que ela circula.

Racismo estrutural. Esse é o nome dado quando a mulher branca segura firme sua bolsa. Racismo estrutural. Esse é o nome do olhar criminalizante do policial e do vigilante do banco com o controle em suas mãos a travar a entrada do homem negro. Racismo estrutural. Esse é o nome da recusa do taxista em parar ante o sinal feito. Racismo estrutural. Esse é o nome do olhar de espanto ao se ver um casal inter-racial. Racismo estrutural, é esse que encontra-se intrincado às diversas relações humanas e que vai muito além do comentário discriminatório, da palavra depreciativa ou da zombaria infame.

É na retina que esse vírus está impregnado! É nos poros que ele exala seu odor fétido!

Esse vírus está introjetado nas diversas estruturas sociais e nas mais esclarecidas das mentes. Sim. Você pode não ser o típico ou a típica racista, muito pelo contrário; a sua conscientização social pode fazer de você um grande aliado ou aliada na luta contra o preconceito e a discriminação racial. Mas… quando você vê aquela senhora negra de mais idade e conclui mentalmente que ela deve ser uma ótima cozinheira? E quando vê um homem negro grande e forte e se enlouquece em fantasias a imaginar as loucuras sexuais que ele pode lhe proporcionar, ou no tamanho do seu pau? E quando passa por uma jovem e bela mulher negra de corpo esbelto e conclui que a mesma deve “ter samba no pé”? Ou quando você se impressiona com o linguajar rebuscado do homem negro ou da mulher negra? E na indignação manifesta por você quando percebe que esta mesma pessoa não está aprisionado ou aprisionada à tantas e tantas adjetivações atribuídas ao povo negro? Não… Não… Não! Isso não é apenas figura de linguagem. Tampouco são inocentes e insignificantes quanto possam parecer, essas adjetivações atribuídas à população negra. Essas e tantas outras adjetivações fazem parte de uma estruturação mental que abarca o inconsciente coletivo da sociedade. Essa estruturação foi construída permanentemente ao longo de centenas de milhares de anos e ainda hoje manifesto como que por osmose na estrutura mental das pessoas. Por isso, eu sei que não será possível eu presenciar em vida o fim do estabelecimento estrutural do racismo; pois existe um “sistema” que se beneficia com a minha dor… Pois existe um sistema que se beneficia com a minha morte.